Coral do TCE-MT é extinto após 35 anos e gera comoção cultural
Após mais de três décadas de dedicação à arte e ao espírito coletivo, o Coral do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso (TCE-MT) foi oficialmente extinto. A decisão, tomada pelo atual presidente da Corte, conselheiro Sérgio Ricardo, repercutiu profundamente entre servidores, músicos e ex-integrantes do grupo. A comoção ganhou força especialmente após a manifestação pública do maestro Carlos Taubaté, que regia o coral há 21 anos.
Nas redes sociais, Taubaté não escondeu sua indignação:
“O Coral do TCE existiu por 35 anos. Um coral aclamado por todos os que conhecem música como um coral de excelência no que fazia. Eu tive orgulho de regê-lo por 21 anos. O atual gestor do TCE teve a coragem (ou a falta de substância humana) de extinguir o coral. A justificativa foi: ‘não gosto de coral’...”
O maestro destacou ainda que o grupo vocal foi instituído como órgão oficial do Tribunal em 1997, por iniciativa do então conselheiro Oscar da Costa Ribeiro, o que tornaria a sua extinção uma decisão controversa — e, para muitos, arbitrária.
Coral Musical do TCE-MT, foi criado há 35 anos. Foto: TCE-MT
“Não poderia fazê-lo. Ele pode, como pessoa física, não gostar de coral. Tem todo o direito. Mas, como pessoa pública, não!!! Não tem o direito de extinguir um organismo artístico que é orgulho dos servidores do TCE há 35 anos!!!”, completou.
Patrimônio
Reconhecido pela qualidade técnica e pelo repertório refinado, o Coral do TCE era presença constante em eventos oficiais, solenidades e ações culturais dentro e fora da instituição. Mais do que um grupo de canto, era símbolo de integração entre os servidores e referência de excelência artística em Mato Grosso.
Para críticos da decisão, o fim do coral representa a desvalorização da cultura e a perda de um patrimônio simbólico que humanizava a rotina do órgão público.
Silêncio
Até o momento, o TCE-MT não publicou nenhuma nota oficial sobre o encerramento do coral. Segundo Carlos Taubaté, a única justificativa verbal teria sido a preferência pessoal do presidente da Corte, que teria dito simplesmente “não gosto de coral”.
O silêncio da gestão incomodou ainda mais. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do TCE limitou-se a dizer que “o Tribunal de Contas não vai se manifestar sobre o assunto”.
A reportagem também buscou contato com o secretário de Comunicação do órgão, Raoni Ricci — que, além do cargo institucional, também é músico — e com outro profissional da área de publicidade que atua no TCE, mas ambos preferiram não se posicionar. O segundo, que pediu anonimato, disse apenas que respeita a decisão da atual gestão.
Reações e desabafos
A postagem do maestro gerou centenas de reações emocionadas. Nas redes sociais, músicos, artistas e ex-integrantes do coral expressaram revolta e tristeza.
“Esse conselheiro de contas é o avesso do país que precisamos. E todos sabemos disso”, disse Taubaté em seu desabafo.
“Esse gestor deixa claro e evidente que não gosta de Cultura. Ou talvez não saiba a importância do canto coral”, escreveu um manifestante.
“Passei por isso faz 5 anos. Extinguiram nosso coral e perdemos emprego e esperança. Me fez querer sair do país”, relatou uma mulher.
“Espero que reverta essa situação. Vamos cantar para espantar esse mal”, comentou outra.
“A cadela do fascismo está sempre no cio. O fascismo odeia a cultura. Povo sem cultura é mais fácil de controlar”, criticou um internauta.
Um coral pode calar, mas sua história resiste
Mais do que uma decisão administrativa, a extinção do Coral do TCE-MT acendeu um debate sobre o papel da arte e da cultura nos espaços institucionais. Para muitos, o gesto evidencia um desalinhamento entre a gestão pública e a sensibilidade humana que a cultura representa.
O coral pode ter sido silenciado. Mas sua memória – viva nas vozes, nos concertos, nos bastidores e nos aplausos – continuará ressoando entre aqueles que fizeram parte dessa trajetória de 35 anos. E talvez, um dia, a música volte a ecoar pelos corredores do Tribunal.
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