Nem Patrícia Pillar, nem Fátima Bernardes


Por *Margareth Botelho  

Quando as chamadas celebridades são acometidas por doenças consideradas graves, há inevitavelmente um clima de comoção diante de seus milhares de fãs. A dor dessas pessoas acaba sendo dividida e o peso da surpresa da gente também se ver doente torna-se mais leve. Pelo fato de serem conhecidas, os seus exemplos de vida transformam-se em alertas para a sociedade. Hoje neste artigo falo especialmente de Patrícia Pillar e Fátima Bernardes. A primeira uma atriz consagrada e a outra uma jornalista de grande sucesso. O caso de uma e de outra foram completamente diferentes em termos de gravidade, mas importantíssimos como orientação às mulheres no que se refere à considerada maior causa de mortalidade feminina: o câncer de mama.

Patrícia Pillar perdeu a mama, após uma peregrinação por consultórios médicos e um insistente tratamento dermatológico, quando o caso já era bastante grave. A atriz, além da retirada do seio, enfrentou uma metástase e, por conta disso, recebeu megadoses de quimioterapia e 28 sessões de radioterapia. Quem não se lembra de Patrícia, sem nenhum cabelo na cabeça (fruto das sessões de quimio) entre os anos de 2007 e 2008. Na época, Patrícia deu depoimentos que circularam principalmente pela internet. Ela demonstrou uma força implacável e sobreviveu ao câncer. Hoje não gosta mais de falar no assunto. O sofrimento passou e a doença idem.

Também em 2008, a jornalista Fátima Bernardes, que era apresentadora do Jornal Nacional da Rede Globo, veio a público contar a experiência dela. Numa noite de maio, ao se preparar para dormir notou uma manchinha no sutiã, na direção do mamilo. Preocupada, ligou para o médico, fez exames e a explicação foi de que a secreção podia ser absolutamente inofensiva. Mas também um sinal de tumor. Tudo indicava para algo benigno. Havia uma multiplicação de células nos dutos mamários. Pelo sim e pelo não, a indicação foi a extração dos dutos. Fátima submeteu-se a uma cirurgia e está muito bem. Ao expor ao Brasil a sua doença, alertou as mulheres sobre a necessidade do autoexame e de se fazer periodicamente mamografias.

Diferente dos casos de Patrícia Pillar e de Fátima Bernardes, eu também fui surpreendida após exames descobrir ser portadora de um câncer de mama, em 2006. Talvez só quem tenha passado por experiência semelhante pode imaginar a angústia que se tem até chegar ao médico e conhecer o diagnóstico exato. Ao mesmo tempo em que queremos saber, também não queremos saber. Depois de uma biópsia, fui informada tratar-se de uma “lesão in situ", que significa algo muito inicial e sem risco de espalhar pelo corpo. O médico foi cauteloso para me dizer oficialmente que tinha um câncer pequeno, que deveria ser retirado. Respirei fundo, chorei muito, mas tudo bem. Operei, fiz 38 sessões de radioterapia e fiquei bem por dois anos, quando o câncer voltou na mesma mama. Sofrimento de novo. Medo enorme de morrer e nem ver meus filhos adultos. Na soma de procedimentos cirúrgicos, passei por 7 intervenções.

Em mais um “Outubro Rosa”, que marca a luta contra o câncer de mama, aproveito para contar o meu drama pessoal em nome de milhares de mulheres, principalmente aquelas atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e que nem sonham que podem estar carregando no corpo um câncer totalmente curável, se descoberto a tempo. As minhas duas lesões eram não palpáveis, o que significa dizer que não aparecem em autoexame e sim em mamografias e ultrassom. Fato que me faz ter a convicção de que quando se fala em saúde pública de qualidade, o importante é garantir o acesso da população a médicos e a exames.

E pasmem! Estatísticas comprovam que no Brasil se joga mamografias no lixo. Ou seja, embora cotas do exame sejam disponibilizadas pelo Ministério da Saúde, são pouquíssimas as mulheres que conseguem se submeter ao procedimento. Em Cuiabá, nos últimos 6 anos o desperdício de mamografias chegou a 74%. A proporção indica que de 1.116 procedimentos oferecidos, só 292 se concretizaram. E como contra fatos não há argumentos, parece claro que as mulheres precisam de maior atenção nos postos de saúde e de médicos realmente dedicados à belíssima missão de salvar vidas.

Quanto a mim, agradeço a todos que me apoiaram. Agradeço também a quem se acovardou diante da minha doença. Esses serviram para despertar no meu interior uma guerreira destemida, voraz para enfrentar os embates da vida, especialmente em nome do meu maior patrimônio: Dandhara, Brunno e Paola. Por eles, o meu amor transcende. E a todas as mulheres que possam estar diante de um CA, como dizem, fica a mensagem para que façam desse limão uma limonada. Sei como é difícil lutar contra essa doença, mas nada que uma boa dose de fé em Deus acrescida de uma coragem que surge do nada para nos empurrar rumo à superação.

*Margareth Botelho é jornalista em Cuiabá

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