O Ataque dos Supersinceros
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Por Janã Pinheiro
Quem na vida já
não se deparou com alguém que se considera supersincero? E o que é pior, já foi
vítima do supersincero? O problema desses “super-heróis”, os supersinceros, é
que eles acham que podem falar tudo o que querem, tudo o que pensam, vomitam
seus pensamentos, suas teorias, suas crenças, suas opiniões, suas atitudes em
cima dos outros, como se todos fossem obrigados a ouvir, engolir e ainda
aplaudir seus atos.
O problema dos
supersinceros é que eles não pensam (ou fingem que não pensam) que suas atitudes
magoam as pessoas, ferem, deprimem e podem até mesmo destruir vidas. Não
podemos passar a vida sob a capa falsa da supersinceridade, pois viver em
sociedade não é assim. A minha verdade, a minha sinceridade não é absoluta e
nem a dos outros.
Não estou aqui
defendendo a falsidade, a mentira, a mediocridade, mas também não acho que
temos que aguentar o ataque dos supersinceros inertes. Já pensou se as vítimas
dos supersinceros também revidassem e falassem a eles tudo o que pensam a seu
respeito? Como viveríamos, nos canibalizando?Os supersinceros têm um discurso
pronto: “Você sabe né, eu sou sincero, falo mesmo o que penso e não estou nem
ai”. Fácil, muito fácil emitir opiniões sem se importar com a opinião dos
outros, como se a sua opinião fosse absoluta, pura, perfeita, imaculada,
polida, acima do bem e do mal.
Personalidades
supersinceras começam a se formar ainda na infância, vão para a adolescência e
impregnam na pessoa na vida adulta. A maioria morre assim, pois quem só enxerga
os defeitos dos outros, não tem tempo para olhar os seus, o que é terrível,
pois perdesse ai a grande chance de se tornar um ser humano melhor.
Quem é que na vida
já não foi vítima pelo menos uma vez de um supersincero? Eles estão em todos os
lugares, na família, entre os parentes, no círculo de amigos, no trabalho,
entre os vizinhos, na rua, na fila de banco, enfim, em todos os lugares, vivem
como seres superiores, sob a proteção da verdade.
A escritora e
jornalista Elizabeth Gilbert, no seu Best Seller, Comer, Rezar e Amar, escreve
uma frase muito interessante e que merece reflexão: “Aprender a disciplinar sua
fala é uma forma de evitar que suas energias se esvaiam de você pelo buraco da
sua boca, exaurindo você e enchendo o mundo de palavras, palavras, palavras, em
vez de serenidade, paz e contentamento”. A mais absoluta verdade.
Acredito que à
sinceridade pode ser comparada à liberdade, “a sua termina, onde começa a
minha”. Só assim conseguiremos viver em um mundo com o mínimo de civilidade,
respeito ao próximo, harmonia, felicidade, paz e amor. Será que é pedir demais
aos supersinceros de plantão?
Janã Pinheiro é
Jornalista em Cuiabá
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