Alunos de comunidades santo-antonienses não estudam por falta de transporte escolar
Alunos da rede municipal dependem do transporte fluvial no período chuvoso. |
Estudantes das localidades de Barranco Alto I e II, matriculados em escolas da rede de ensino
municipal e estadual no município de Santo Antônio de Leverger (a 35 KM de
Cuiabá), estão fora das salas de aulas
por falta de transporte escolar.
Quem denuncia a irregularidade
do serviço são os pais de alunos, moradores , servidores e
ex- funcionários da município, que falaram do problema ao blog O Pentelho, na manhã da última quarta-feira (21.10) na Escola Básica
Municipal de Barranco Alto.
O Pentelho registrou as principais
dificuldades que têm deixado os alunos das comunidades ribeirinhas
fora dos estabelecimentos
públicos de ensino.
O pescador Cláudio Nunes Pereira e sua esposa Leidiane, pais
dos alunos Ana Cláudia Pereira,
de 4 anos, e Marco Antônio Pereira, de 6
anos, que estão matriculados no ensino básico e fundamental e vivem a quase 8 km da escola municipal, contam que seus
filhos estão mais de 3 meses sem estudar porque o serviço de transporte não é
feito.
Professora Márcia acompanha translado dos estudantes até a comunidade São José. |
Cláudio ainda que falou que várias vezes solicitou o problema
à secretaria educação do
município, inclusive, teve um
encontro com o prefeito
Valdirzinho Castro. “Uns dias desses encontrei com o prefeito
Valdirzinho que estava aqui passeando
de barco, e ai aproveitei pra
falar do assunto com ele, mas até o momento não tive o retorno”, comentou.
Segundo os moradores do Barranco Alto e I e II, há dois servidores contratados pela prefeitura que
recebem um salário na faixa de R$
2.000 a 3.000, além de ajuda de
combustível para o abastecimento de 2 barcos a motores disponíveis
para transportar os
alunos e professores das comunidades até um ponto próximo da escola municipal, que fica nas margens do Rio Cuiabá. Mas o problema
que apenas um dos servidores não vem cumprindo a obrigação de atender os alunos, impedindo a vinda
deles à escola municipal, como os filhos do casal Cláudio e Leidiane.
A professora Márcia de Souza Pereira, responsável pelo ensino da
unidade escolar, informou que teve
conhecimento do assunto pelos pais dos
alunos e contou que eles
foram orientados para
procurar a secretaria municipal de educação, a fim de relatar o problema.
Alunos ribeirinhos são usuários do único ônibus escolar. |
Assentos do ônibus estão danificados. |
“O transporte dos alunos do São José está funcionando normal.
Já sobre os alunos do Barranco Alto II não posso
afirmar, porque alguns alunos são
trazidos pelos pais e outros não foram justificados na escola, e nem sei
sobre o trabalho do responsável
pelo barco de lá. Mas sei que este ano,
por duas vezes, aconteceu que os
barcos ficaram parados sem combustíveis e os alunos não puderam vir”, explicou
a servidora da unidade escolar municipal.
O pescador Cláudio diz que filhos não estudam há mais de 3 meses. |
O ribeirinho Genésio e seus filhos Rodrigo e Renata, estudantes do ensino médio estadual. |
“Aqui tivemos três pedidos de transferência por causa da falta de
transporte, pois alguns pais não têm
condições trazer seus filhos”,
complementou a professora.
Outra situação são os estudantes que precisam ser transportados ao centro de Santo Antônio
do Leverger, onde estão instaladas
as unidades educacionais que oferecem o
ensino médio.
“Eu fico preocupado com meus filhos porque eles já ficaram mais de
30 dias afastados da escola. Pois teve a greve dos servidores municipais,
e o onibus nao passava , afirmou o
morador Genézio Ãngelo da Silva, pai dos
jovens Rodrigo Gusmão da Silva, 15 anos, e Renata Gusmão da Silva, 13 anos, que
estudam na Escola Estadual Leonidas de Matos.
Os denunciantes também informaram que existe uma rivalidade
política quanto o comportamento de
um dos servidores que trabalha no transporte dos alunos, pois segundo eles, acreditam que esse
funcionário julga os
eleitores da comunidade que não
apoiaram os candidatos do grupo do prefeito
Valdirzinho na eleição passada, por isso, isenta de
cumprir os deveres
do trabalho.
Os moradores ribeirinhos
ainda contam que somente no
período de campanha eleitoral que as autoridades do município
aparecem na localidade para apresentar seus candidatos, sobre a realidade que vivem os estudantes, mas depois disso,
eles “nada fazem para resolver o problema”.
Leidiane fala que políticos só visitam as comunidades no período de campanha eleitoral. |
“Já perdi as contas de quantas vezes fui representar meu filho na
escola onde está matriculado. Mas
toda vez que falo do ônibus
escolar aos professores e coordenadores
da escola, eles dizem que o assunto já foi repassado para a prefeitura, e
assim a gente fica esperando”, comentou
outra moradora, Iracema Nunes Cruz, mãe do jovem David Cruz, 16 anos, que
estuda 1°do ensino médio na Escola Estadual Hermes Rodrigues de
Alcãntara.
De acordo com pais dos estudantes, às vezes, para amenizar o
problema, eles contam com ajuda de amigos e familiares para hospedar
dos seus filhos em casas de
parentes que moram próximo do centro da
cidade ou em Cuiabá, para não prejudicarem o ensino, mas nem sempre é assim no dia a dia.
Atualizada - 26/11/2018 - Após a divulgação da reportagem, a Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer (Seduc), por meio da assessoria de imprensa, encaminhou na tarde de segunda-feira (26.11) uma nota sobre a parceria do Governo do Estado com o município santo-antoniense, quanto a responsabilidade pelo transporte escolar aos alunos da rede estadual de ensino que residem em zonas rurais. Além disso, informou sobre os recursos financeiros que foram destinados ao poder Executivo Municipal.
Confira nota da Seduc na íntegra:
"1 – O Governo do Estado é responsável pelo transporte escolar de alunos da rede estadual que residem em zonas rurais, em parceria com o município. Sendo assim, cabe ao Estado efetuar repasses dos valores e ao município realizar contratação e manutenção dos ônibus e pagamento de combustíveis para transporte dos estudantes;
2 – Neste ano, a Seduc realizou sete repasses aos municípios que estavam aptos, ou seja, com as prestações de contas em dia e sem impedimento para receber os recursos;
3 – Os repasses ao município de Santo Antônio somam a quantia de R$ 848.601,96. Além disso, a Seduc quitou também duas parcelas dos recursos oriundos do Fundo de Transporte e Habitação (Fethab), no valor de R$ 84.295,31 – resultando em um repasse total de R$ 932.897,22;
4 – A Seduc ressalta que outras três parcelas, que somam R$ no valor de R$ 141.433,55 cada, serão repassadas ao município, conforme acordo firmado entre o Governo e Undime-MT;
5 – Informa que, além disso, mantém contrato com a administração municipal de cessão 10 ônibus escolares para a realização do transporte. Por meio deste convênio, cabe também ao município a assistência e a manutenção adequadas para o bom andamentos dos serviços e adequado atendimento aos estudantes;
6 – Por fim, ressalta que de 2014 a 2018, a administração promoveu acréscimos no repasse aos municípios de 43%. Em 2015, foram investidos R$ 67.301.994,90, em 2016, R$ 76.504.479,23 e em 2017, R$ 96.232.784,17. Neste ano, até o momento foram repassados cerca de R$ 46 milhões para a realização do transporte escolar de cerca 90 mil estudantes das zonas rurais do Estado".
Atualizada - 26/11/2018 - Após a divulgação da reportagem, a Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer (Seduc), por meio da assessoria de imprensa, encaminhou na tarde de segunda-feira (26.11) uma nota sobre a parceria do Governo do Estado com o município santo-antoniense, quanto a responsabilidade pelo transporte escolar aos alunos da rede estadual de ensino que residem em zonas rurais. Além disso, informou sobre os recursos financeiros que foram destinados ao poder Executivo Municipal.
Confira nota da Seduc na íntegra:
"1 – O Governo do Estado é responsável pelo transporte escolar de alunos da rede estadual que residem em zonas rurais, em parceria com o município. Sendo assim, cabe ao Estado efetuar repasses dos valores e ao município realizar contratação e manutenção dos ônibus e pagamento de combustíveis para transporte dos estudantes;
2 – Neste ano, a Seduc realizou sete repasses aos municípios que estavam aptos, ou seja, com as prestações de contas em dia e sem impedimento para receber os recursos;
3 – Os repasses ao município de Santo Antônio somam a quantia de R$ 848.601,96. Além disso, a Seduc quitou também duas parcelas dos recursos oriundos do Fundo de Transporte e Habitação (Fethab), no valor de R$ 84.295,31 – resultando em um repasse total de R$ 932.897,22;
4 – A Seduc ressalta que outras três parcelas, que somam R$ no valor de R$ 141.433,55 cada, serão repassadas ao município, conforme acordo firmado entre o Governo e Undime-MT;
5 – Informa que, além disso, mantém contrato com a administração municipal de cessão 10 ônibus escolares para a realização do transporte. Por meio deste convênio, cabe também ao município a assistência e a manutenção adequadas para o bom andamentos dos serviços e adequado atendimento aos estudantes;
6 – Por fim, ressalta que de 2014 a 2018, a administração promoveu acréscimos no repasse aos municípios de 43%. Em 2015, foram investidos R$ 67.301.994,90, em 2016, R$ 76.504.479,23 e em 2017, R$ 96.232.784,17. Neste ano, até o momento foram repassados cerca de R$ 46 milhões para a realização do transporte escolar de cerca 90 mil estudantes das zonas rurais do Estado".
Outro lado
O Pentelho entrou em contato com o secretário
municipal de educação, Pedro Adalberto Ribeiro, além do prefeito Valdir
Pereira de Castro (PSD), por meio dos celulares e mensagens enviadas, para
falarem do assunto, mas não
obteve o retorno até o fechamento da
reportagem.
Atualizada - 27-11-2018. Depois de 2 dias que tomou conhecimento da reportagem, o secretário de educação de Santo do Leverger, Pedro Filho Ribeiro, procurou O Pentelho e afirmou que o transporte do ônibus escolar aos alunos da comunidade Barranco Alto 2 que estão matriculados no ensino médio não era feita, porque havia atraso dos recursos financeiros pelo governo estadual à gestão do município.
Secretário Pedro Ribeiro diz que o governo estadual atrasou repasses ao transporte escolar do município. |
“Assumi a Secretaria de Educação a 90 dias e temos deparado com essa deficiência do transporte escolar. A linha escolar que faz o transporte de alunos da rede estadual está com a frota a mais de 9 anos sem renovação. O ônibus está totalmente danificados pelo longo tempo de trabalho, além do mais os atrasos nos repasses do governo do estado,com tudo isso estamos na luta pela melhoria do transporte escolar. Pois estivemos em Brasília com o Prefeito Valdir em busca de renovação dessa frota diante do FNDE. Solicitarmos ônibus novos para melhor atender os alunos e acreditamos que seremos atendidos”, explicou ele, ao falar do o único veículo escolar esteve várias vezes em manutenção por não suportar o percurso das estradas das localidades às escolas da rede ensino estadual, mas a gestão municipal sempre preocupou com o problema, inclusive, vai adquirir mais 6 veículos novos, pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.
Já sobre os barcos que fazem o transporte fluvial dos estudantes municipais, também, o secretário salientou que o serviço contratado foi destinado apenas aos alunos da comunidade São José do Boa Vista, situada do outro lado do Rio Cuiabá.
“A respeito dos barcos que fazem o transporte dos alunos municipais são contratados 02 barqueiros para o transporte e estaremos verificando in loco para tomar as devidas providências, contudo, verificamos com os barqueiros e os mesmos garantem que não houve paralisação que chegasse a esse ponto de dias sem transporte, e a comunidade de Barranco Alto 2 não tem transporte de barcos , somente as comunidades de São José da Boa vista, que está a margem direita do rio Cuiabá. Mas estaremos tomando providências e levantando esses fatos”, justificou ele, ao dizer que também a pasta não havia feita uma pesquisa recente de quantos alunos matriculados da localidade, mas será providenciado informações ao plano de gestão escolar municipal 2019.
De acordo o secretário, a partir desta terça-feira (27.11), uma equipe do Conselho Municipal de Transporte estará visitando as famílias das comunidades Barranco Alto I e II e São José do Boa Vista, além de outra localidades vizinhas, para realizar um levantamento e identificar se os estudantes estão ou não fora das salas de aulas.
“Por morarem em comunidades rurais, às vezes, ocorrem que muitas famílias se mudam em razão de trabalho temporário em fazendas ou chácaras que ficam nessas localidades, e acabam não matriculando seus filhos nas unidades escolares no período inicial do ano letivo. Além disso, pode ocorrer que esses pais não comunicaram oficialmente a situação ao conselho de transporte ou a coordenação da secretaria, mas mesmo assim, é o nosso dever e estamos à disposição para inserir esses alunos ao sistema de educação”, concluiu o secretário municipal.
Por Everaldo Galdino
Fotos: da reportagem
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