Artigo: “Não existe almoço grátis” para o consumidor

Por *Gisela Simona  

A célebre frase “Não existe almoço grátis” não é de minha autoria, pelo contrário, é polêmica quanto a sua origem, mas é consenso que se tornou um adágio da cultura popular anglo-saxã - “there ain’t no such thing as a free lunch”, segundo a qual tudo no mundo econômico tem um custo, sendo impossível conseguir algo sem dar nada em troca. E, nesse contexto, utilizo essa frase para chamar a atenção do consumidor não apenas para as ofertas já tradicionais no mercado de consumo, mas também para novas práticas do mundo moderno. 
Veja que na segunda metade do século XIX já era comum nos EUA e também na Inglaterra que restaurantes oferecessem a seus clientes um “almoço grátis”, desde que comprassem as bebidas, tanto que relatos dão conta que muitas empresas foram criticadas e até processadas por “propaganda enganosa”, uma vez que o preço da bebida obviamente incluía o da refeição. No Brasil não é diferente, é comum você ver anúncios do tipo “estacionamento gratuito para clientes em compras”, “pague 1 e leve 2”, “na compra acima de X reais ganhe um brinde”, “parcelado em 10 vezes sem juros”, enfim, práticas do comércio que induzem o consumidor a acreditar que estão ganhando algo, tendo alguma vantagem, quando na verdade está pagando por absolutamente todos os serviços e produtos que está tendo acesso. 
O que nem todo consumidor está atento é que no mundo digital que estamos vivendo o que temos de mais precioso para o mercado de consumo não são aqueles R$ 100 ou R$ 200 que estão “sobrando” na conta bancária ou na carteira e posso gastar, mas são meus dados pessoais que, uma vez captados, poderão servir para um bombardeio de ofertas diárias personalizadas para as minhas necessidades, dentre outras ações, o que faz com que toda minha aquisição de produtos e serviços seja direcionada a lojas previamente escolhidas para eu comprar, bem como que algumas atitudes surjam totalmente estimuladas pelo procedimento virtual. 
Assim, quem tem um e-mail “gratuito” hoje como o gmail do google, do yahoo ou utiliza de uma rede social como “facebook” ou “instagram” e acredita que não pagou “nada” para esse uso, o alerta deve ser total porque você pagou quando aceitou preencher aquele cadastro inicial, baixou o aplicativo no seu celular ou computador e diariamente é motivado a postar um pouco mais de sua vida particular ou profissional, suas crenças e costumes, sua convicção ideológica, dentre outras informações suficientes para o mercado conhecer mais sobre você e convencê-lo a ter o comportamento que querem que você tenha. 
O exemplo mais recente de que “não existe almoço grátis”, trata-se do aplicativo de “envelhecimento” FaceApp, visto que no seu regulamento de uso tem uma cláusula que autoriza a empresa a coletar e compartilhar dados do consumidor sem explicar de que forma, por quanto tempo e como serão usados. Além disso, os termos de uso da ferramenta não são disponibilizados em língua portuguesa, fazendo com que a maioria dos brasileiros que baixaram o aplicativo sequer leram o regulamento antes de clicar SIM, ACEITO OS TERMOS DE USO. 
Nesse sentido, é perfeitamente tranquilo afirmar que aquilo que não se paga com dinheiro em espécie você paga com dados, o que nos torna ainda mais vulneráveis no mercado de consumo, este que a cada dia está mais rico de informações a nosso respeito e tem um grande investimento em inteligência artificial para dominar a pessoa humana em todos os aspectos da vida cotidiana. 
Pense bem e avalie antes de fornecer seus dados para tudo, pois, a intenção nem sempre é a que está na oferta e cabe a você discernir quais os dados de sua vida deseja compartilhar, afinal, não existe almoço grátis. 
* Gisela Simona - Advogada, pós-graduada em Direito do Consumidor, servidora pública concursada no Estado de Mato Grosso junto ao PROCON/MT, atualmente secretária adjunta do PROCON/MT e 1ª suplente de Deputada Federal em Mato Grosso

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